Uma das estreias mais elogiadas da temporada americana, “Modern Family” cativou o público de imediato, tornando-se o maior trunfo do bloco de comédias da ABC. A emissora carecia de programas cômicos, visto que a rival NBC exibe os seriados mais conceituados do gênero, “The Office” e “30 Rock”. Ainda assim, não dava para prever a boa repercussão da nova série, mesmo tendo sido criada por dois veteranos da TV americana, os roteiristas Steven Levitan e Christopher Lloyd (não o ator). Depois de fazerem parte da equipe de “Frasier”, os dois erraram a mão com a sitcom “Back to You”, mas voltaram a se acertar nessa nova empreitada.
Souberam fazer ótimo uso, por exemplo, daquele formato de falso documentário utilizado nas comédias de Ricky Gervais – como se os personagens estivessem sendo acompanhados por câmeras 24 horas por dia. Cientes disso, eles volta e meia encaram os cinegrafistas, preenchendo os silêncios embaraçosos com olhares constrangidos.
Não se trata, porém, de uma comédia da humilhação impiedosa, como é “Party Down” ou a própria “The Office”, só para citar duas atuais. Algo que fica bastante evidente é o desvelo com que a série é feita. Às vezes eles se metem em situações ridículas, às vezes eles se estranham por conta de suas diferenças culturais, sexuais e intelectuais; mas nunca deixam de se importar um com o outro. Esse senso de união é explícito no encerramento dos episódios, que fecham com declarações mais sentimentais e menos escrachadas, onde tudo o que é dito se encaixa lindamente com os vínculos de afeto estabelecidos entre os personagens.
O elenco de “Modern Family” é um capítulo à parte. Cada ator se assenta tão bem no seu papel que fica difícil ou mesmo impossível imaginar outro intérprete na mesma função. Não à toa, foram indicados em conjunto ao SAG, o Prêmio do Sindicato dos Atores, como Melhor Elenco em Série Cômica – aliás, “Modern Family” também descolou indicação ao Globo de Ouro, e deixa grandes expectativas para seu desempenho no próximo Emmy.
O veterano Ed O’Neill pode ter ficado eternizado como o pai de família Al Bundy em “Married with Children”, mas, segundo ele mesmo, “Modern Family” é o trabalho do qual mais se orgulhou de fazer parte em toda a carreira. Como o sessentão que se casa com a jovem latina (a impagável Sofia Vergara), ele contracena com crianças talentosas (como o garotinho que faz seu enteado e aqueles que interpretam os netos) e com atores maduros que nunca tinham conseguido se destacar anteriormente (caso de Eric Stonestreet, que rouba a cena como o gay escandaloso Cameron, e Ty Burrell, perfeito como o marido que faz de tudo para agradar a todos).
O mais bacana em “Modern Family” é justamente isso: todos tem a chance de brilhar. Todos serão aproveitados, todos terão um momento só seu, todos terão oportunidade de contracenar uns com os outros. Por isso é complicado escolher qual dos enredos é mais atraente: os três se emparelham no nível de qualidade, em termos de texto e atuação.
Também é notável que o roteiro não caia em repetições, apesar das tramas girarem com frequência em torno de detalhes da personalidade de cada um (a exuberância da latina, os exageros do gay, a carência do esposo dedicado etc). É bastante significativo, ainda, que uma série que inverte os valores da família americana tenha sido tão bem acolhida por lá. Nada em “Modern Family” corresponde à imagem da família tradicional e imaculada que o país insiste em defender – mas as questões, tratadas com imenso cuidado e bom gosto, tornam-se mais digeríveis pela abordagem, e permitem que o apelo da série se mantenha familiar. Um sinal claro de que as mudanças já chegaram e que a diversidade (cultural, sexual, racial, etária) finalmente é reconhecida e celebrada.
fonte: pipoca moderna
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